sexta-feira, 9 de agosto de 2024

Como matei minha querida família - Bella Mackie

Continuando a saga "autores britânicos" nesse blog, eu gostaria muito de ressaltar: não é de propósito!
De fato, creio que estamos vivendo um "hype" muito grande na publicação desses autores. E é coincidência que ultimamente eu tenha me interessado por livros aleatórios da Grã-Bretanha.
Vamos ao que interessa: "Como matei minha querida família" é uma obra de ficção da jornalista Bella Mackie - não, não é a história de uma assassina da vida real, tipo Suzane von Richthofen. Mas é interessante e possui uma reviravolta crucial lá pela metade do livro. Então, bora pra resenha:


Grace Bernard é uma jovem, filha de mãe solteira, que perde a genitora  na adolescência para um câncer fatal. A garota então vai morar com a melhor amiga da mãe, Helene, e com o passar dos anos começa a nutrir um intenso desejo de vingança direcionado à família do pai e ao próprio pai que abandonara sua mãe grávida.
A bilionária família Artemis seria então alvo de suas tramas homicidas - ao longo de alguns meses, Grace articula e executa sozinha o assassinato de seus avós paternos Kathleen e Jeremy, de seu primo Andrew - filho de seu tio Lee, que ela também executa, da madrasta Janine e por último a meia-irmã Bryony.
A perspicácia de Grace no que diz respeito ao planejamento bem como a execução das mortes é típica de uma psicopata fria e calculista e a autora não faz questão nenhuma de camuflar esses traços de sua personalidade. Grace se revela ao leitor ao longo da trama de maneira nua e crua. Todas as nuances de uma personalidade antissocial são detectáveis ao longo da narrativa: pouquíssimos amigos por ocasião de sua baixa habilidade socioafetiva e incapacidade de se conectar emocionalmente com o próximo, necessidade de isolamento social, dificuldade de sentir empatia ou remorso, comportamento manipulador e egocêntrico - todos esses aspectos são oriundos de sua baixa inteligência emocional.
Pretendo não dar spoilers, mas, das seis mortes uma me chocou e comoveu bastante e vou narrá-la aqui.
Após assassinar os avós, Grace parte no encalço de seu primo Andrew Artemis. Um jovem estudante que havia decidido abrir mão de viver em meio ao luxo e a fortuna de sua família e partido rumo a uma vida simples, dedicando-se ao estudo de anfíbios, mais precisamente do veneno alucinógeno potente produzido pela rã-kambô.
Habilmente a garota começa a se envolver em atividades voluntárias em um santuário de sapos onde Andrew atuava e aproximando-se do primo, sob o pretexto de aprender mais sobre o tema, começa uma amizade.
Uma noite ambos resolvem tomar um pouco de vinho no deque do santuário a noite e, empolgados, decidem testar os efeitos do Kambô. Após a aplicação do veneno de rã na pele, Grace um pouco entorpecida, consegue derrubar Andrew do deque - ele também estava em estado de torpor pelo efeito do alucinógeno - e o afoga no lago, sem um pingo de empatia. Quando termina, segue para sua casa sem o menor remorso.
O que ela não sentiu de pena, nem de arrependimento, eu acabei sentindo! Meu Deus, como simpatizei com Andrew, uma rapaz tranquilo, doce e de boas intenções. Confesso que essa morte mexeu tanto comigo que tirei um tempo da leitura para o luto (é sério, não digeri bem o comportamento de Grace com relação ao primo). As ficções também sensibilizam a gente...
Como eu havia dito no início da resenha, uma reviravolta nos aguarda na metade no livro. Grace é presa! mas não pelos assassinatos da família Artemis e sim pelo homicídio de Caroline (que ela não cometeu), a noiva de seu melhor amigo - se é que podemos defini-lo dessa forma - Jimmy.
O final é igualmente surpreendente. Mas não vou dar o spoiler completo - só vou contar que ela sai da prisão e descobre outro meio-irmão, que atrapalha seus planos de requerer sua herança bilionária - afinal ele sabe o que Grace fez no verão passado!

Toda leitura nos causa uma reflexão e dela, tiramos nossas conclusões.
Penso que muitos de nós viemos de famílias tóxicas, assim como a de Grace, narcisista ou sociopata.
Mas a solução de fato, por pior que seja a família, nunca é exterminá-la. Mas sim, afastar-se dela impondo o contato zero, realizando um luto em vida.
Quem veio de uma família tóxica, na realidade jamais teve família.
O que caracteriza um lar não é o laço consanguíneo entre as pessoas que vivem nele, mas o afeto que os seus componentes partilham.
Grace poderia ter simplesmente entrado na justiça, pedido um teste de DNA e pleiteado a parte que lhe cabia na fortuna dos Artemis. Mas sua falta de inteligência emocional a compeliu a eliminá-los. Ela imaginou que fosse sair completamente impune, mas não passou por sua cabeça que havia um perseguidor silencioso em seu encalço, à espreita de cada passo seu - um irmão igualmente psicopata ao meu ver, mas com um pouquinho mais de domínio sobre seus próprios impulsos.
Enfim, para mim fica a lição de que quando se trata de uma família tóxica, a maior vingança é buscarmos o nosso sucesso relegando-os ao lugar de insignificância que eles merecem, porque a vida é muito maior e mais bela e não devemos desperdiçá-la ocupando nossos pensamentos com um bando de psicopatas.

Boa leitura!!!

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