sexta-feira, 14 de fevereiro de 2025

As cinco feridas emocionais - Lise Bourbeau - Ferida da TRAIÇÃO

Finalmente, depois de muito tempo retornei trazendo a resenha sobre a "ferida da traição". Tal demora se deve ao fato de que essa ferida em particular me custou um tempo a mais de reflexão e internalização de seu conceito.



A definição de traição parece algo simples. É o contrário de ser fiel: ser leal é cumprir seus compromissos, é acima de tudo ser devotado. Quando a confiança é destruída, podemos ser vítima da traição.
De acordo com Lise Bourbeau, a ferida da traição é vivida em nossa primeira infância com o genitor do sexo oposto (abro um parêntese aqui, porque na minha interpretação não ocorre necessariamente dessa forma). Segundo a escritora, toda criança sobretudo entre os dois a seis anos, "apaixona-se" pelo genitor do sexo oposto ou pela pessoa que desempenha esse papel, pois é nessa idade que sua energia sexual se desenvolve.
O parêntese que fiz acima se relaciona com o fato de que enxergo as relações afetivas entre pais/mães, filhas/filhos através do prisma da polaridade, do gênero - polo masculino e polo feminino. Na minha experiência por ser menina, busquei em meus genitores o meu polo oposto - o polo masculino - e ambos o tinham. Interessante que, minha genitora era uma mulher bastante masculina e meu genitor já era um pouco mais equilibrado quanto a essa questão, de maneira que os dois, ao meu ver despertaram essa ferida em mim, com intensidades diferentes, mas ainda sim o fizeram.
Essa dinâmica "edipiana" quando mal resolvida durante a juventude, acaba afetando as relações afetivas e sexuais do adulto, pois este tenderá a comparar ou criar expectativas irreais quanto ao seu parceiro amoroso, por causa do que não recebeu do seu pai ou sua mãe. Então, essa pessoa passará a sentir mais dificuldade de se entregar completamente em um relacionamento.
Quando a criança começa a viver experiências de traição, cria para si uma máscara para se proteger, como no caso das outras feridas - essa máscara é a do controlador.
Quanto ao comportamento e as atitudes do controlador, a força é uma característica comum a todas as pessoas que possuem a ferida da traição (e isso inclui força física). É importante para elas exibir força e coragem. Muito exigentes consigo mesmas, querem mostrar aos outros que são capazes. Percebem todo ato de covardia como uma traição. Têm muita dificuldade em aceitar a fraqueza dos outros. Ressalto que a ferida da traição é despertada no controlador sempre que ele está diante de uma pessoa relapsa em seus deveres.
Têm a tendência a confiar com mais facilidade nas pessoas do mesmo sexo que ele e de vigiar e controlar mais as do sexo oposto. 
Meninas podem se sentir traídas pelos genitores na infância, quando ao serem castigadas pelas mães não são defendidas pelos pais. Filhas de mães narcisistas e pais omissos carregam esse estigma consigo.
Todo tipo de atitude imprevisível da parte do genitor costuma criar um sentimento de traição na criança do tipo "controlador".
Pais controladores agem mais em função da própria reputação do que visando a felicidade dos filhos. Tentarão convencê-los de que é para o seu bem, mas eles não são tolos. Pais controladores querem fazer escolhas e tomar decisões pelos filhos, enquanto pais que realmente se importam, procuram saber o que realmente faria sua prole feliz, através de diálogo e empatia genuína.
Pessoas com a ferida da traição sofreram com o fato do genitor do sexo oposto não cumprir seu compromisso de acordo com as expectativas que a criança tinha do que é ser um pai/mãe ideal. Por exemplo: um pai/mãe responsável, comprometido, protetor, afetuoso, etc.
O portador da máscara de controlador deve compreender que controlar é conduzir, administrar ou governar sob a influência do medo. Dirigir é a mesma coisa, mas excluindo-se o medo: é dar uma direção sem necessariamente querer que a outra pessoa chegue lá à nossa maneira.
Dito isso, essa ferida pode ser positivamente trabalhada através da autoconsciência e transmutada em um atributo positivo: a liderança. Bons líderes sabem dirigir, conduzir empaticamente os seus liderados rumo ao sucesso, sob os auspícios do respeito e consideração mútuas, bem como da lealdade.
No campo das relações afetivas e sexuais, o controlador tenderá a ter problemas pois idealizou de tal forma o seu genitor, que nenhum parceiro é capaz de corresponder às expectativas dessa pessoa. Sua ferida da traição pode conduzir a dois extremos opostos: a necessidade de ter muitos amantes ou a negação completa da sexualidade - pois ele nunca se satisfará totalmente com um parceiro.
Das doenças que podem se manifestar no controlador, as mais comuns são: agorafobia, problemas nas articulações, perda de controle corporal, paralisias, problemas no sistema digestivo, doenças de natureza inflamatória, herpes - todas doenças relacionadas a baixa imunidade, pois o controlador vive estressado em virtude de sua hipervigilância, o que faz seu organismo liberar cortisol em excesso o que compromete seu sistema imune.

Curar a ferida da traição em nós consiste em primeiramente nos perdoarmos pelas expectativas que criamos com relação ao genitor e não foram alcançadas, pelo raiva que sentimos deles por isso e pela culpa que surge posteriormente. Quando crianças éramos incapazes de nos autorregular, mas hoje como adultos, é plenamente possível abraçarmos o ser ferido que vive dentro de nós e deixarmos o passado para trás.

Uma observação que considero pertinente é a de que vejo no comportamento controlador bastante do "narcisismo", o que me leva a crer que o indivíduo narcisista possui um Complexo de Édipo extremamente mal resolvido e isso acaba se transformando em um transtorno.
Penso que homens abusivos, possessivos e autoritários, são fruto de uma má educação por parte de suas genitoras que não souberam impor limites a esses filhos mimando-os, ou, os maltrataram demais.

Por isso creio que demorei para trazer essa resenha, pois compreender a profundidade dessa ferida e como ela é bastante comum em nossa sociedade, principalmente entre os homens, me provocou profundas reflexões sobre o papel das mães na educação dos filhos.

 Por fim, desejo a todos uma ótima leitura!!!

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